domingo, 19 de abril de 2009

Pontilhismo

O azul-tijolo dos teus olhos
realçava-se no vermelho das árvores
dava notas agudas ao verde das nuvens...
impresso e expresso em pontos transparentes
não permite realidades mais falsas
nem aglomera as mentiras
semi-tonais da brisa.

Paulo Acacio Ramos

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Abril

Nosso azul
nunca foi á piscina
menina dos olhos
cor de abacaxi
flor de cebola
cortada e carpida

Nosso azul
guarda em si
a sombra das pétalas
o sabor nas papilas
salivadas e submersas

Nosso azul
tem o toque
do ananás
nuances de lilás
e cortes de luz
coroas de espinhos
anéis de saturno

Nosso azul
é marinho
profundo e soturno
tem laivos
de escamas
lentidão de larvas

Nosso azul
não está no sangue
exala do solo
exuma o corpo
da nossa solidão

Nosso azul
faz-se prisma
e separa
as sílabas
do espectro
no arco das íris
dos olhos dos furacões

Nosso azul
escorre leitoso
dos furos
dos buracos todos
das nossas cabeças

Nosso azul
põe-se à janela
a cuscar as vizinhas

Nosso azul
habita os olhos
das gaivotas
e os olhos
das sardinhas

Nosso azul
anda nas ruas
e dorme embaixo
das pontes

Nosso azul
é flor de laranjeira
é farda de aviador
ave do paraíso
pinguim e geladeira

Nosso azul
é uma cor duvidosa
às vezes é negro
outras vezes
cor de rosa.

Paulo Acacio Ramos

terça-feira, 7 de abril de 2009

Lambe-me os Pés com teus Olhos...

Meus pés
despedaçados
meus pés
que seguem
e secam
areias e espinhos
meus pés
que seguem
perdidos
nos teus passos
meus pés
que calçam
as pegadas
que deixaste
no chão
meus pés
que lavei
na chuva
do céu
dos teus olhos
meus pés
que afundam
nas mentiras
dos teus olhos
meus pés
que eu não sei
por onde andam
ou onde param.


Paulo Acacio Ramos

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Contrastes




Um dos meus Desenhos a Tinta da China, contrastes de Preto e Branco.

Fora de Hora

A memória dos elefantes é famosa,
os elefantes não esquecem,
têm cabeças enormes e guardam
uma enorme quantidade de informação.
Quando morrem, suas cabeças, orelhas
e trombas destacam-se dos corpos
e vão viver no mar, na forma
de raias gigantes ou mantas.
As mantas têm, também,
memórias surpreendentes,
só é pena que sejam as memórias
dos elefantes.

Paulo Acacio Ramos

Dieta

Pão de Forma e queijo às fatias
e mais fiambre...
e forjei uma identidade alfandegária,
cruzei a fronteira do desejo
e comi-te inteiro, digeri...
devagar, como anaconda,
a matéria gorda do nosso amor.

Paulo Acacio Ramos

Os Dias, Assim...

A tua presença
verde faz
alface do meu momento
não sei se seiva
que tão bem sabe
ou se asa que voa ave...

Paulo Acacio Ramos

Sábado

A asa pequena
que abriste sobre mim,
tinha penas,
tinha todas as minhas penas
e eu, distraído,
descruzei as pernas
e deixei que me tocasses
nos chacras mais íntimos.

Paulo Acacio Ramos

Terça-feira

A paisagem (verde)
segue aprisionada
nos olhos (castanhos)
dele, a paisagem segue,
como seguem
as manchas (castanhas)
no pêlo das girafas
e a íris (castanha)
dos olhos dele.

Seu perfil opaco
perde-se (verde)
na paisagem e seus olhos
perdem-se no contorno
dos dorsos (pardos)
das girafas.

Paulo Acacio Ramos

Quinta-feira

O amor perdura
como uma parede dura
e duras são todas as paredes,
podem não durar as paredes,
podem não permanecer,
mas o amor permanece...

o amor deixa sua cor, seu calor,
seu odor em todas as paredes,
que duras, hão de durar
por muito tempo.

Paulo Acacio Ramos

Segunda-feira

Não te Vires
para entender-me
que eu também
não me vou virar
para entender
porquê
te viraste...

Paulo Acacio Ramos

Domingo

Como se fosses uma inexperada aparição,
entidade ibero-tupiniquim.
Eu olho para ti e sinto saudade
da melancolia amarelo-banana
de Carmen Miranda...

Paulo Acacio Ramos

Sexta-feira

Dou-te jóias, couraças, coroas,
abacaxis. Como-te homeopaticamente
em todas as refeições, deixo migalhas
de ti em todos os cantos da inexistência

o sol põe-se, radical, por trás dos painéis,
cenário tropical de um filme que ninguém
viu. Faço viagens de baixo custo pelos
comprimidos do gabinete da casa-de-banho,
sexta-feira de mim mesmo!

Paulo Acacio Ramos

Quarta-feira

Os Furos da Solidão
sugam o sol e dão
ao azul um toque
de escama de peixe
um vermelho aflição
um fogo parido pela
contínua e eterna fricção!


Paulo Acacio Ramos

Santa Poesia