segunda-feira, 26 de setembro de 2011

26.09.11



Cristal

Dança corpo
semimorto
neste entrudo
percussivo
abstracção do
abstracto
desconstruído
dói um corpo
que não sustenta
o arco celeste
em seus ombros
pescoço que estala
espalham-se
no chão
as vértebras
manhã clara
de quarta-feira
de cinzas.
Não sabemos bem
de onde, ou quando, 
mas há de vir
de algum lugar
a vaga que levará
os restos dos
pesadelos, e
dos farrapos, e
dos grilhões da
esperança, a 
qualquer momento, 
em edição especial,
ou em programação
normal com o melhor
do Carnaval.



PAR - PT

sábado, 24 de setembro de 2011

24.09.11



Abissal


um pesadelo
dá-me um pesadelo
que tenho sede
de oceanos
de fogo
a lamber a beira
dos lábios fulvos.


PAR - PT

terça-feira, 20 de setembro de 2011

20.09.11



ontem vi borboletas
eram livres e estavam
presas à memória
quando me sentar
convosco à mesa
hei de vos contar tal história
de borboletas que voam livres
na gaiola da minha memória
sob o sol do dia
que nossos corpos percorria (?)
andamos à sombra
chaves que abrem corpos
e deixa pronto o tom
do tempo (!)
esquecer de propósito
os outros corpos
enterrados no alcatrão
e cobertos de cimento
raio-X de paredes
do estômago e técnicas
invasivas de investigação (...)
escutas médico-telefónicas
litros de sangue nos pequenos
tubos de cristal
rastreios e relatórios
que só dizem o já sabido (:)
todos, um dia, deixaremos
de estar... deixaremos de ser
seremos apenas borboletas
na gaiola das lembranças
fotografias digitalizadas
em alta definição
que ninguém mais vê
porque não se lembra
onde guardou o DVD...


PAR - PT

domingo, 18 de setembro de 2011

18.09.11



mal-ditos


diz-me com quem nadas
e te direi convés...
diz-me com quem andas
e te direi com pés...
diz-me em quem mandas
e te direi quem és.


PAR - PT

sábado, 17 de setembro de 2011

pássaros



O que amo nos pássaros

não é a habilidade de

voar,mas...

a capacidade que têm

de pousar.


comentário feito por mim a uma fotografia de um poeta amigo.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

16.09.11



partiu-se a haste
perdeu-se o lastro
foi-se o mastro
erguido em caravela
foi vento e popa
em busca da descoberta
de ilha em ilha
a remexer escolhos
percorrer como lágrima
na linha do espelho
sem âncora
sem remo e sem vela
e brisa que não enfuna
incêndio em alto-mar
carinho de redemoinho
marés incertas
três Marias de cada porto
moreias raias barracudas
mar calmo mar morto
sereia calada
saudade colada ao peito
pérola barroca
mar salivado no canto
da boca...


PAR - PT

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

15.09.11



ao invés de me
achincalhar
convença o dinossauro
que habita
a sua cabeça
a mudar de planeta...


PAR - PT

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

14.09.11



Lanterninha

O que revela
Tanta fita
Tanta tela
Uma tarde uma bela
Um último tango
Um último imperador
Um império dos sentidos
Câmaras lentas
A lamber paisagens
Grandes planos
Psicoses e Pássaros
Caçadores de Andróides
Aliens e Interiores 
Deuses e Monstros
Um banho de mar
Um banho de sangue
Toda a nudez
Bonitinha mas ordinária
Guerras de sexos
Amores de guerra
Luta luto
Tempos modernos
Morangos silvestres
Gato puta
8 ½ Decamerão
Penumbras de sombras
Nos olhos
Tela que queima
Vento que tudo levou
Murros e beijos
Imagens em movimento
Barbarella Emmanuelle
Cinderela.

PAR - PT

terça-feira, 13 de setembro de 2011

13.09.11



Lentamente
Os corpos movem-se
Uns sobre os outros
Voláteis e vítreos
Os corpos sedentos
Uns dos outros
Partem dedos
Deduzem carícias
Os corpos carimbam-se
Uns nos outros
Com bocas ávidas
Áridos beijos
Barrigas vibráteis
Liricamente
Os corpos esquecem-se
Das plumas
Que deitam sobre eles
As mãos dos poetas
Os corpos não se importam
Se há versos
Os corpos não corrigem
As rimas imperfeitas
Os corpos só sabem
Uns dos outros
Flácidos e lânguidos
Os corpos movem-se
Uns sobre os outros.

PAR - PT

Dedicado ao Dante Pincelli O Velho, ao Marcelo Asth, ao Thiago Cervan, ao Joaquim Cardoso DiasGeraldo Sant Anna, a O Símbolo e a Bruna Lombardi... Poetas, Vivos, que amo e leio e amo.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Saudades de um Grande Amigo

http://elencobrasileiro.blogspot.com/2010/01/luiz-macas.html

Luiz Maçãs





(Rio de Janeiro em 21/05/1963 - Rio de Janeiro em 27/07/1996).

Estreou como ator no início da década de 80 fazendo teatro e chegou ao cinema em 1986 participando do elenco jovem do filme “A Cor do Seu Destino”, estrelado por Guilherme Fontes.

No ano seguinte já estava na TV onde entre novelas, minisséries e seriados, realizou 10 trabalhos na sua curta carreira de ator. Trabalhou na TV Manchete, onde estreou na novela “Helena” vivendo o personagem Beraldo e depois foi para a TV Globo onde fez “Fera Radical”, “O Salvador da Pátria”, “Desejo”, “Riacho Doce”, “O Mapa da Mina” e seu último trabalho na TV, o Cadelão de “Engraçadinha, Seus Amores e Seus Pecados”. Outro papel de destaque foi o Armando Rosas de “A História de Ana Raio e Zé Trovão” na TV Manchete.

No cinema fez ainda “Lamarca”, “As Feras” e dias antes de falecer encerrou sua participação no longa “Tiradentes”, do diretor Osvaldo Caldeira.

Luiz Maçãs morreu, aos 32 anos, de causas não esclarecidas pela família. Sabe-se que o ator havia realizado um regime para perder mais de 20 quilos e estava com depressão.



Luiz foi um dos homens que mais amei em toda a minha vida!!!

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

07.09.11



a tua herança genética
não altera em nada
os padrões do papel
da parede
janela alerta que nada
importa
cálice mudo que partido
permanece sob a mesa
cortina mortalha tapete
bilhetes de ida-e-volta
em lugar nenhum.


PAR - PT

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

05.09.11



enquanto eu sonhava
tu passavas nuvem
sobre as cabeças que
não te conheciam
pairavas ave tonta
no ar pesado da
noite quase morta
enquanto eu sonhava...


PAR - PT

domingo, 4 de setembro de 2011

04.09.11



aquelas coisas
que costumavas dizer
sobre o mar
perderam-se na espuma
tua armadura de prata
enferrujou
e desfez-se na bruma
teus falsos quereres
que enchiam
transatlânticos
tornaram-se invisíveis
ao microscópio.


PAR - PT

sábado, 3 de setembro de 2011

03.09.11



orbitas
a trajetória
do meu delírio
trágico satélite
sôfrego solfejo
lampejo de encíclicas
ciclo vicioso
nojo e vômito
olhos vermelhos
que saltam das 
órbitas


PAR - PT 

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Os 13 Trabalhos de uma Mão Paralisada.




Todo o ser é obra, todo o ser é primo e cromo… Os seres todos são unos e monos e simples…quase todos, os seres, são básicos e alguns seres são humanos, sendo que a maioria o ignora! Vírus a infectar galáxias! Seres aquáticos porque molhados, seres aéreos porque aluados. Seres terrestres porque enterrados, seres ígneos esturricados. Dragões, sereias, quimeras ou esfinges, cada ser só é aquilo que ser finge.

Todo o ser é obra, todo o ser é presa e massa… Os seres todos são carbono e fibra e tónus… Quase todos, os seres, são complexos e alguns seres são humanos, sendo que a maioria o ignora! Astronautas em gotas d’água! Seres barrocos porque história, seres modernos porque histeria. Trogloditas e poliglotas. Sacrossantos e idiotas.

Todo o ser é página virada no livro da vida, todo o ser é escrita borrada no rascunho do mapa do inferno. Todo o ser é humor e licor e sangue, e suor, e saliva…

Todo o ser é metástase da luz solar no azul-marinho do céu de um Outono eterno, todo o ser é pasta, é massa, barro e argila. Todo o ser é um parasita na pele das cobras, é toxina nos arcos de meio ponto, todo o ser é eléctrico e humano, sendo que a maioria o ignora! Azulejaria nas paredes dos conventos, pão e rosas nos colos níveos das rainhas.

Todo o ser vivo é um acumulo de células mortas. Todo o ser é Arte, todo o ser é parte da Arte do outro, todo o ser é a outra parte, não complementar, daquilo que foi preservado da quintessência da Arte do outro.

Todo o ser vivo é descoberta e caravela e carta de amor sem destinatário…alguns seres humanos são humanos, sendo que a maioria o ignora! Todo o ser é maçã na boca de Eva e na boca de uma qualquer princesa de conto da infância…todo o ser é pecado mortal e perdão eterno.

Todo o ser é sorriso e enigma e signo. Todo o ser é museu e galeria e parede. Todo o ser é obra-prima a que nenhum outro ser liga a mínima. Todo o ser é cemitério e urna, depositário do fazer de outro ser, da cinza do corpo amoroso de um outro, qualquer, ser, que não lhe é dominante, porque amante, porque sempre e depois e antes.

Todo o ser é água atirada ao chão, atirada ao azeite da sociedade ou ao vinagre de Deus, à saliva da boca dos ateus.





Paulo Acacio Ramos

2007

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

01.09.11



Violância
Cidadão Contra
Baixo Calão
Viola um Sê-lo
Ar Para Respirar
Quarteto Discordas


PAR - PT

Santa Poesia