segunda-feira, 27 de junho de 2016

Disfunção



Deitei minhas feridas
sobre a mesa
e pus e gangrena e dor
pus os pratos e os talheres
e cortes e torniquetes
estanquei o sangue
deitei pus pelas feridas
abri as cicatrizes ao ar
e me doí profundamente
cortei alguns pulsos
e ouvi bater à porta
ritmo certo 
harmonia perfeita
batida de samba
deitei-me sobre o sangue
jorrei pus e saliva
deixei-me digerir
por mim mesmo
até coagular-me.

PAR Junho 2016

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Vazio de Orlando



O que aconteceu em Orlando não foi um ataque
a nenhuma forma de pensar, nem a um qualquer 
comportamento que pudesse desagradar ao 
atacante criminoso, o que aconteceu, realmente
foi um ataque pessoal e directo à minha pessoa
enquanto humano e pensante, foi alguém a 
esconder-se em palavras vazias e fundamentos
ocos para realizar um crime de ódio, um ódio
que nada mais é que "ódio por si mesmo por 
não ser capaz de respeitar outro ser humano".
O que aconteceu em Orlando não foi um ataque
que mereça ser reclamado por qualquer grupo
terrorista, fundamentalista ou carnavalesco...
O que aconteceu em Orlando foi a epítome da 
falta de respeito e do vazio, o suprassumo da 
imbecilidade e da capacidade individual de fazer
mal a outro ser, humano ou não, semelhante ou
não. O que aconteceu em Orlando não encontra
palavras em qualquer língua para ser descrito!

PAR 2016

Turva Tarde



A tarde parda,
pombos, pardais.
A tarde perde-se
em gritos, perdões.
A tarde urde dramas.
Trama seus tiros
e pessoas morrem
aqui, na Bahia, na Flórida.
A tarde trava vontades,
limita desejos.
A tarde é uma puta do
caralho que a foda...
A tarde chove e move
nuvens no céu 
de areia.
A tarde prova 
do sangue de todos.
A tarde é sempre
tarde demais.

PAR 2016

Santa Poesia