Eu exponho meu trabalho plástico
leio em voz alta meus poemas
exibo-me, explico-me, explicito-me
deixo-me ler por olhos alheios
e ouço comentários ao fundo
ouço partículas do que pensam de mim
construo castelos e labirintos
para me explicar as lacunas
do que me ficou nos tímpanos
ninguém sabe da missa um terço
mas todos querem saber o preço
do homem, do artista, do activista
daquilo que o artista nem sabe que faz
vejo cometas a galgar estrelas que montam astros
tudo se move à minha volta
e eu exponho meu trabalho poético
leio em voz alta meus desenhos
corto-me, transpiro-me, afogo-me
faço de mim o zero que ninguém pôs
à esquerda de todos os algarismos
engulo mais um ansiolítico
mais um anti-hipertensivo
e litros de água, que sou caranguejo e preciso
vou reciclando amores e destilando horrores
ódios, nojos, desejos, lampejos de lucidez
sinto mais do que penso e penso mais do que falo
não me calo, falo para caralho...
e dou gargalhadas lunares
procuro a simplicidade do diamante
na dureza da carne do amante
e transpiro, e inspiro e sou inspirado
por uma Vaca de uma Musa que não existe
mas que insiste em por-me palavras
nas pontas dos dedos e tinta na ponta do nariz
não sei que farei quando vier a hora
não sei o que fiz antes de me ir embora
sei o que faço, sei quem abraço
sei que sou um ser inteiro a quem vai faltar
eternamente um pedaço.
PAR