terça-feira, 31 de maio de 2011

31.05.11



Espera lenta
em tracção das fomes
pela última escuridão
momentos que adejam
embarcações em rios
de argila branca
são bacias
lâmpadas
garrafões
deleite sorridente
de espera
uma dor nos dentes
cabeça que lateja
lembrança fétida
carcaça pútrida
e larvas
muitas larvas
biliões de triliões
de larvas sobre 
o cadáver
do desejo...


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segunda-feira, 30 de maio de 2011

Sobre Gémeos


Os Geminianos têm uma tal capacidade de não ser
uma quantidade de coisas que, quando são, todos
acreditam que estão a fingir...

21-05 a 20-06

...

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30.05.11



diga trinta e três
diga trinta
não diga nada
ou diga três
trinta e três vezes três
e nada
que diga poderá
ser usado contra si
outra vez
nem pela primeira
vez
no primeiro e no último
dias do mês
que há de ser
vinte e oito
ou vinte e nove
ainda trinta
talvez trinta e um
mas nunca chegará
a trinta e três
nem que o diga
trinta e três vezes
vezes três...


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domingo, 29 de maio de 2011

29.05.11



Flor de Fruto da Paixão

amor que amargo
ácido
em flor de maracujá
que arde em fogo e pressa
e é presa de onça
amor que é vítima e caçador
da flor
em fogo
no emaranhado da trepadeira...



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Inspirado por Geraldo Santana  e pelo seu poema flor de maracujá.

sábado, 28 de maio de 2011

28.05.11



lembro-me que a amava
não sei quando
mas amei
ama-la-ia se calhar
a mala ia de mão
em mão
ia com ela
e eu me lembro
que a amava
não lembro quando
mas amei
não lembro quem
mas acho que 
talvez
não sei!...


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sexta-feira, 27 de maio de 2011

27.05.11



Agarrados ao Agasalho


Oje, um omem esteve 
em crise de isteria
epática ermética
por causa da avaria
da élice do elicóptero
que o levaria a sobrevoar
as ostes de ipopótamos
ermafroditas
que através da istória
sempre resolveram
aparecer num orário
ipotéticamente impróprio.


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quinta-feira, 26 de maio de 2011

26.05.11



engordei
não caibo mais 
na camisa-de-força
que usava
não posso mais
dizer disparates
e coisas incompreensíveis
pois não caibo
na camisa
nem à força
não caibo em mim
de tanta certeza
que engordei
para deixar de caber


fiz de mim uma espécie
de dois-em-um
sou assim por dizer:
"eu em mim e não
caibo em mim"...
como sempre 
devia ter sido
agora, só me falta
desactivar o campo
magnético terrestre!


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quarta-feira, 25 de maio de 2011

25.05.11



as fibras desenvencilhadas
do coração ateu
levadas ao máximo
da elasticidade
nos dentes afoitos
e nas línguas bífidas
do passeio público
no limite das linhas
do ventre dos atletas
fronteiras catatónicas
de desejo e luxúria
o estalar das chicotadas
e o trio de cordas
a animar a orgia


a matilha surge
e mancha a névoa
com olhos vermelhos
a matilha traz
nos caninos
a suavidade natural
da lã dos cordeiros.


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terça-feira, 24 de maio de 2011

24.05.11



quero desenfrear-te
e atirar-me contigo
do alto do primeiro
degrau de qualquer
escada-rolante
quero a certeza
de que tocamos
o solo juntos e
na mais completa
segurança
quero desafinar-me
e cantar contigo
a canção nocturna
que fizemos para
a lua
enquanto me comias
a carne
enquanto comia
a tua
e que um luar
nos revele
as pedras à beira
do caminho
que percorremos
na noite preta...


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segunda-feira, 23 de maio de 2011

23.05.11



falta finalidade
à maioria das frases
falta o peso das palavras
e jeito para dizê-las
todos querem sempre
fazer prevalecer suas
exclamações...
e, assim, vomitam
vírgulas, cospem
reticências...
tudo dito pela metade
tudo meio-ouvido
tudo é um parco
eco do som dos
neurónios a trabalhar
por isso é que desejo
a todos os que se acham
se pensam ou se imaginam
acima de um bem ou
de um mal
que vão procurar hemorróidas
no próprio cu.


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domingo, 22 de maio de 2011

22.05.11



creio que me quero
refazer
reconstruir
creio que quero
coisas diversas
claras conversas
que os seres
que habitam a
minha cabeça
teimam em ter...
e suas vozes
desfazem-se
desconstroem-se
fazem-me crer
que existo
que vivo para
abrigá-las
e ouví-las
coagulado...


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sábado, 21 de maio de 2011

21.05.11



salta meu corpo
fogueira assalta-me
o corpo à primeira
solta-me o corpo
que leve
mistura-se aos
flocos da neve
salga-me os poros
e deixa-me
afogar no vazio
deixa-me fazer-me
de chuva
e penetrar
o Estio...


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sexta-feira, 20 de maio de 2011

20.05.11



Era uma vez...
alguém que se apaixonou
por outrem
e fizeram coisas juntos
e não fizeram coisas juntos
e nunca juraram amor eterno
mas foram felizes
foram muito felizes
felizes com o que tinham
em cada momento
por que nada 
dura para sempre
e apenas por essa razão
sempre estiveram
felizes
mesmo que não fosse
para sempre.


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quinta-feira, 19 de maio de 2011

19.05.11



abraço-me às coisas
de ti
que não me ficaram
as marcas
os cortes
foguetes de festa
fotografias rasgadas
a lama
o limo
o lume das tardes
complicadas
de Primavera
teus disparates
serenas mentiras
cortes de cabelo
cacos de vidro


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quarta-feira, 18 de maio de 2011

18.05.11



meu pai morreu
há trinta e sete anos
faz muito tempo...
há pouco tempo 
percebi
que não faz tanto
tempo assim...
percebi que o tempo 
não é muito
nem é pouco
o tempo é um menino
sentado no canto
de castigo.


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terça-feira, 17 de maio de 2011

17.05.11


A girafa é uma borboleta sem asas, o pinguim é uma borboleta marinha e o ornitorrinco é uma borboleta estranha... e a cegonha, com que sonha a cegonha?  A cegonha sonha com céus limpos cheios de asas de borboletas e manchas de girafas, sonha com o branco antárctico e as costas dos pinguins, sonha com os bicos laranja dos pinguins e os bicos que não são bicos dos ornitorrincos. A cegonha sonha com chaminés, que não deitem fumos, para fazer seu ninho, sonha com as iridescências das asas das borboletas, das manchas das girafas, sonha com os ovos dos ornitorrincos. A cegonha sonha que os pinguins podem voar e as girafas passeiam-se nas savanas submarinas, as cegonhas sonham com bebés ornitorrincos a dormir no marsúpio da mãe...a cegonha tem pesadelos com seres humanos a destruir a natureza, a poluir o ar, a terra e a água, a por fogo em tudo. A cegonha sonha que a girafa é uma borboleta sem asas e o pinguim é uma borboleta a preto e branco e o ornitorrinco é uma borboleta estranha e linda, ainda mais lindo por ser estranho, a cegonha sonha e depois acorda para ver-se cercada de outros seres que sonham que um dia todos serão borboletas a voar no infinito...

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segunda-feira, 16 de maio de 2011

Praça Pública



Só Desejo que essa Gentinha morra 
de uma "overdose" de Óbvio...

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16.05.11



foste tu
ou foi o vento
que apagastes
a chama do desejo?
quem foi que
por distracção
perdeu-te
perdeu-se de ti
nunca voltou 
para te pedir
perdão


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domingo, 15 de maio de 2011

Exposição de Pintura



Pinturas a Aguarela e Pastel, muito antigas e muito recentes...


"Girafas, Pinguins e Ornitorrincos ou com que Sonha a Cegonha?"

...de como as Borboletas são, Simbolicamente, a representação da Metamorfose, Transformação, Evolução e Concretização... com
lançamento da pedra fundamental do projecto Pana-paná de intervenção urbana por meio de execução de Origamis e colocação dos mesmos no meio circundante... 

Inauguração a 20 de Maio de 2011 a partir das 21:30 h.
Encerramento a 17 de Junho de 2011.

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Abstração do Abstrato

...A verdade nua e crua não está lá! A mentira fria e dura não está lá! Mesmo que estivessem não as vias, pois são diáfanas, abstratas. A verdade e a mentira são irmãs gémeas siamesas impalpáveis. Como impalpáveis são os perfumes das flores que não viste, os suores dos corpos que não tocaste, as lembranças da inocência que perdeste! Toda a noite um nevoeiro confunde a luz das estrelas que sabemos que não estão lá, mas vemos da mesma maneira, vemos a luz do passado das estrelas, vemos aquilo que já foi uma estrela, mas a manhã está desobstruída. Um langor de domingo recobre, ainda, a capela da aldeia, a missa da anunciação não terminou ainda. Se sairmos ao jardim. Como é pequeno tudo: a casa e o fumo, ondulando acima do telhado! O vapor congela-se em pratas rosados. Suas colunas levantam-se atrás das casas até o arco do céu, como as asas de anjos gigantes...

Paulo Acacio Ramos

15.05.11




comprei um terreno
no inferno
a um transeunte
burocrata
que temia ser
retalhado
no dia do juízo
final...


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sábado, 14 de maio de 2011

14.05.11



vendi o corpo 
à ciência
mas a burocracia 
fazia cheirar 
a pele
mal lavada 
e a dobra
colada ao balcão
do açougue...


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sexta-feira, 13 de maio de 2011

13.05.11



vendi a alma
a um transeunte
mas foi o diabo
para chegar
a um preço final
dei-lhe cabo
do juízo e ele
fez-me um inferno...


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quinta-feira, 12 de maio de 2011

12.05.11



O belo habita
uma dobra no tempo
uma curva da cortina
uma sombra
na escuridão
não se dá à luz
não se faz presente
o belo emerge
do Mar Morto
do Oceano Índico
do Lago Titicaca
o belo morre de sede
à beira do copo
e deixa levar seu corpo
para a morgue
de um hospital 
acético
e lindamente branco
de uma série qualquer
da televisão
que não assisto
o belo está preso
às entrelinhas
daquilo que nunca
foi escrito...


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quarta-feira, 11 de maio de 2011

Literatura


vide o verso
vídeo inverso
verso transverso
verso ao avesso
não leio antologias
mas leio as bulas
dos remédios.

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11.05.11



porque não voa mais
nesse azul
meu coração ateu?
porque resolveu
esconder-se nos subterrâneos
do breu?
quê é que anda a procurar
nos anéis de Urano e
para lá da órbita de plutão?
com letra minúscula
posto ter perdido seu posto
de nono planeta...
apesar de continuar lá
a rodar à volta do sol
como antes e depois e
como será para sempre
...
a perguntar:
por quê não voa mais
meu coração azul
nesse universo ateu?...


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terça-feira, 10 de maio de 2011

Estrofe

...
toda a poesia
é incompleta
falta-lhe sempre
um próximo...
...


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10.05.11



que é um sótão 
se não uma caverna (*)
virada do avesso
uma entidade
não-divina
com os olhos pregados
na marca do gol
à espera...
e não vem o pontapé
não se inicia
qualquer movimento
nada acontece 
por anos a fio
treme de febre
treme de frio
deixa-se ir pluma
na tona do rio
sentado na margem
a olhar para
o outro lado
e sem nenhuma
vontade de construir
pontes...


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*sobre um mote de Burian...

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Taxidermia


conheço bem o vácuo
flutua em mim sempre
o vácuo respira-me...

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09.05.11



nada satisfaz
nem dá sabor
ao mastigado
e o engolido
não preenche
o saco sem fundo
os olhos
procuram apressados
nas lombadas
os manuscritos
que tenham respostas
e o que fode tudo
é esse excesso
de falta...


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domingo, 8 de maio de 2011

08.05.11



as flores fundem-se
com o fundo
fumarento
sem o frescor
frígido do orvalho
fenecem flácidas
em feixes de pó
e folhas
cinzentas
as flores findam
desfeitas
em fitas
em pétalas
em falhas
em fugas


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sábado, 7 de maio de 2011

07.05.11



aonde vais tão depressa
tão devagar
tão como se o mundo
fosse parar ao fundo do poço
fosse parar fim do mundo
aonde vais
tão concentrado
tão amuado
tão pouco satisfeito
aonde vais
se é que vais
aonde vais...


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sexta-feira, 6 de maio de 2011

06.05.11



há coisas que só gosto
em ti
há outras que sem ti
não gosto
há coisas que deixam
de ter sabor
se não estiverem 
nos teus dedos
há coisas em ti
que eu não gosto
e um gosto de ti
que trago na língua
e deixa um travo
azul na garganta
há coisas em mim
que gostam de ti
e gostam de mim
em ti...


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quinta-feira, 5 de maio de 2011

Ballet Surrealista


E então, caminhava eu
por um dos corredores
do teatro municipal
quando fui violado
por todos os bailarinos
e pelas bailarinas
também...

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05.05.11



órbita obliqua
à volta de nada
de vácuos eternos
e oráculos divinos
folha que adeja
ao sopro do zéfiro
e flauta
e fraga
de frémito pagão
mão que treme
de paixão
sobre livro
e corpo e neve
e rocha
freme a chama
incerta e sem mel
desaparece lambido
o sal no canto
dos olhos
e os pardais
endémicos
riscam o chão
riscam a mão
os pardais 
esvoaçam
riscam os ar
o céu o azul
os pardais ficam
não vão para
o sul.


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quarta-feira, 4 de maio de 2011

04.05.11



o ódio mata e corta
o ódio é muito cego
e dispara
em todas as direcções
depois encolhe-se
e fica à espera
de outra provocação
em sua caverna
de paredes esmeralda
o ódio dorme mal
vigia e faz
vigília
quer saber o que 
perdeu
enquanto devorava
o próprio fígado.


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terça-feira, 3 de maio de 2011

03.05.11



agora não!
nem penses...
achas?
deves ter comido
merda
ao pequeno-almoço
ou
andas a picar-te
com água oxigenada
depois...
agora não!


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segunda-feira, 2 de maio de 2011

02.05.11



eu não sou
eu não sei
o que sai
o que soa
eu não suo
eu mão seio
ouço sino
ou assino
tanto faz
tanta valsa
tanto jazz
sou assim
assassino
do que não
há em mim
...


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Santa Poesia