segunda-feira, 31 de outubro de 2011
31.10.11
Terminal
eu quero o zero
o pouco nada
quase vazio
reflexo inerte
na poça rasa
da íris possessa
rigor mortis
do ponto cego
no fundo do olho.
domingo, 30 de outubro de 2011
30.10.11
Que é que tem o mar?
O mar não se ouve,
o mar bebe-se com os ouvidos...
Tragamos mudos o mar que brame.
No mar sentimo-nos meio-peixe...
meio-feto!
Somos ovo
amniótico
no útero da outra que nos pariu.
PAR - PT
sábado, 29 de outubro de 2011
29.10.11
Bestiário
Arde a língua
Com picadelas
Como quem comeu
Formigas…
Eu não quero falar
Sobre isso ou aquilo
Que te sai
Desenfreadamente
Da boca incendiada
Dragão doméstico
Alforrecas
Cactos
Histaminas no ar
Do Outono
O cheiro das descobertas
A invadir os narizes
Indígenas
E os frutos das terras
Novas
A desflorarem-se
A dar seu toque
Ázimo
Às moribundas Europas.
PAR – PT
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
Avenças
Não há só seres humanos maus,
também há os muito maus, os
péssimos, os horríveis, e podres.
Ah, há, também, aqueles que não
fodem nem saem de cima, os
bonzinhos, esses são os piores!
PAR - PT
Avesso
queria só ver-te ao longe
________ mas não sei...
queria saber-te ao perto
mas não vens_________!?
PAR - PT
28.10.11
Claustro
Lábio sem saída…
Sem saber para onde
Ir, depois da despedida!
Marca na pele.
Beijo despencado.
Pancada, mordida!
Não sei se te quero
Nem sei onde estou.
Sangue perdido em
Aurículas…
Mistério que corre na
Rede das artérias.
As pontas dos dedos
A arrepiar paredes
De anti-matéria! (?)
Tantos corredores sem
Direcção; placas
De contra a mão,
Etiquetas.
Não sei o que faço
Nem sei onde vou.
Tantas janelas e
Treliças e gelosias.
Os pensamentos
Entrelaçados na espuma
Do mar que brame
Em ecos nas conchas
Adormecidas.
Não sei se ainda lembro
Daquilo que não sei
Das coisas mais esquecidas.
PAR – PT
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
27.10.11
Acrópole
Abrias o azul
Com teu olhar nublado
Eram raios e outras coisas
Que a ninguém
Lembraria saber
E por pouco
Não escorria da boca
Dos que não diziam
Seus desejos…
Apenas três
E mais nenhum
Como se cada
Um fosse uma ideia
Genial.
Um grito nos telhados
Da cidade
Um grito que não é eco
Um grito de fúria
E prazer
A cortar as nuvens
Como uma vagina,
Uma chuva de tesouras.
E tu abrias o azul
Com teu olhar.
Deixavas o azul
Fazer-se branco
E cinza vestido de negro.
A cidade
Escanzelada
Bebia teu sangue
E cuspia nuvens
Pelas chaminés
À espera que abrisses
O azul
Com o teu olhar.
PAR - PT
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
Qual é a Previsão do Tempo para Amanhã?
E os trens?
Os Trens, que já não param e não levam, e os trens?
Os trens, onde estão os trens
que outrora soavam na aurora destas estações?
Parece que há um prenúncio de chuva...
Os trens de névoa a vaporizar nuvens, os trens,
para onde foram os trens, os pinguins e as girafas?
PAR - PT
26.10.11
Visão
Não era especial
Em nada
Mas tinha esse gosto
Pessoal
De arrancar
Os olhos às moscas.
As moscas
Por seu lado
Não viam razões
Aceitáveis
Para a execução de tal.
Nada tinha de especial
Nem falador
Nem traquinas
Mas era exímio
Na execução cirúrgica
Da remoção ocular
De insectos
Dípteros.
PAR - PT
terça-feira, 25 de outubro de 2011
25.10.11
Evento
Quem abre a porta
Não está à espera
De ver a face
De quem vem
De trás
As facadas
Desferidas no ventre
As entranhas
Desfraldadas
Vento que chia
Nas frestas…
Quem abre a porta
Não está à espera
De ter a face
Lambida
Pelo vento
O cheiro das samambaias
A passar
Por baixo da porta
As dobradiças
Abafadas
Pelo ranger
Das roupas que secam
Quem abre a porta
Não está à espera
De levar com a porta
Na cara.
PAR - PT
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
Estes Dois
domingo, 23 de outubro de 2011
23.10.11
Princesa
Irreflectido pensamento
Que dobra o momento
Angular das tuas pálpebras
O espelho a engolir
Teus olhos lacrimosos
Cristais pingados
Na pele de prata
Filigrana das pontas dos dedos
Medo de gozo e desejo
Não sei quem sonhou
Teus desertos
Mas matou com oásis
A sede do mar
Vértice angustiado
No polígono das emoções
Coração que dorme
Acabrunhado
Nos calabouços da torre
Das ironias afoitas.
PAR - PT
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