terça-feira, 22 de julho de 2014

Batatas Fritas sem Sal, por favor.



No meu tempo, 51 era uma boa ideia e como para bom 
entendedor, entender basta… Não vou, simplesmente, explicar. 
Mas não sei se será tão boa a ideia de fazer 51, ou 1 além do 
meio do caminho para os 100.
Inquietante e pouco excitante, essa vida levada a cabo. 
Essa incerteza de sobreviver da caridade de quem me detesta 
(salve Cazuza). 
Cheguei aos 51 sem vontade alguma de voltar aos 15 ou a outra 
idade qualquer, que todas as idades foram de ouro e todas foram 
valentes merdas, em todas elas tive amores grandes e perdas maiores.
Cheguei aos 51 como se chegasse a casa e metesse a chave à porta, 
mas ninguém fez o jantar ou pôs a roupa para secar, secos os olhos 
e seca a terra onde se atiram sonhos para recolher trovoadas.
São 51 velas num bolo barco à deriva, sem perspectiva, 
sem nexo, sem porto onde viva o olhar amante. 
Onde haja ar para respirar e amigos de braços abertos, 
mentes abertas e coração farto. 
Vendo casa com cantos de memória, vendo 
memórias com gritos de sombra. Vendo bem, nada há para ver.
Aos 51 sou vinho que não viu os anos a passarem, 
que não foi metamorfose de água, que não deixou na língua 
o travo do tempo, mas envelheceu no fundo de uma adega.
51 e velho demais para as perguntas retóricas em frente ao espelho, 
a bruxa me enfada e eu não quero fodas, madrinha! 
Meio comprimido de manhã, outro meio mais tarde e um inteiro 
ao deitar-se, belo resumo das coisas, 
hipertensiva incerteza e 51 de cu é rola.

PAR – PT

18.07.2014

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