aos domingos, o pai escala
uma lateral do telhado,
procurando encontrar algum lugar
onde não haja nenhum olhar,
nada mais a fazer a não ser
despir-se, recostar-se e abrir
os braços largamente, cruzam-se
seus pés e fazem-se num xis,
um alvo para que o sol concentre
todas suas energias sobre ele.
o assento da alma, os pelos húmidos,
respirando, é o pai que chama
toda a luz que pode para ele,
em sua exaustão heróica,
um guerreiro.
se o seguir, quieto como a luz,
em genuflexão até ao lado dele,
íntimo como o sol, a caçar aranhas
no seu tornozelo
como um mistério velado,
quero ler a linha do maxilar
do pai, a história de sua boca,
a boca em seus ombros,
sua barriga.
levemente,
como beijaria uma flor,
esfregando os lábios ao longo
do pénis do pai,
seu gosto é seco
como o das pétalas,
grama molhada,
doce de seda,
bonecas velhas.
os braços abertos
e os pés cruzados
aos pés da cruz recolho
o pai nos braços,
a afagá-lo como a um milagre,
não para remover feridas
mas, para saber
o que realmente é sofrer.
parece tudo assim tão natural,
mesmo a boca
pressionada de encontro
ao corpo do pai…
de onde tudo foi extraído.
PAR - PT