Rodapés e Corrimãos
Deixas-me os nervos
em franja.
dás-me febres
que não curam!
Bebo água à tua procura,
corro rios,
engulo lagos,
empapado em tua ausência.
Não há verdades
em absoluto…
Há momentos parados
no tempo,
em que bastam doces
mentiras
e bolos enormes.
(com coberturas açucaradas)
E beijos que não
fazem trepidar
ou sentir calafrios.
Depois canja
Que não quero comer.
Tu dizes:
- “Come que te faz bem!”
Uma colher à boca
e cuspo.
E tu: - “Come que faz-te bem!”
Mastigar, mastigar…
Não consigo engolir.
É tudo pó e gelatina.
Não consigo comer,
mesmo que me faça bem!
E tu: não dizes nada
Em tua defesa
Sorris, apenas,
Com essa tua boca
Repleta de dentes;
coroas, jaquetas…
o esmalte a ser corroído
lentamente
por um tártaro de nicotina!
E tu sorris, simplesmente.
O gato nem nota a tua
Presença, absorto
Em lambidas ao pelo.
As unhas cravadas
Na carne, a rasgar
Cortinas, a fazer de mim
Um amontoado de farrapos.
Juntei os restos
e mudei de país.
Andei contra o sol
por noites sem fim.
Fugia dos teus silêncios
e tu sorrias,
condescendente,
no calar da aurora.
Meus dias varriam-se
no chão das folhas,
afagavam teus cabelos,
a sonhar, a sonhar
e a sonhar
com teu fígado de cebolada.
Os olhos não viam
o que o tempo deixara
de contar
aos ouvidos
sobre as últimas notícias
das ruas de Tegucigalpa…
ouvia-se, apenas, ao longe
o sussurro das beatas,
a voz das loucas;
(insana nas alturas)
Os vitrais, em vibração,
a partir-se
em mil visões
caleidoscópicas
e os santos
a retornarem ao pó…
(suas imagens cobertas de pó)
Os santos queimados
em fogueiras vaidosas.
Os santos cravados
na pedra (crivados de setas…)
e deus sorri nas alturas. (hossana)
como um predador
de emboscada.
Deus adormeceu em sua gruta.
Deus é só mais um
dos animais selvagens
que habitam tua saudade.
Assim, toda esta
constatação de inexistência,
tira-me
completamente
a vontade de comer.
A febre já não aquece
mas está lá
nas pernas e nas têmporas.
Como um beijo
de que não se esquece!
Dez minutos depois
teu sorriso
entrou em modo de descanso.
Teus lábios
a trocar de cor
a transmutarem-se
asas de morcego.
Teus lábios
esconjurados (feitiçaria)
a verter o leite chorado.
A mudança de tons
da pele exposta
é a prova irrefutável
(magia negra)
do efeito dos raios gama
sobre as margaridas do campo.
Tu comes a sopa toda,
e o som da tua digestão
arrepia-me,
dá-me ânsias.
Faz-me ficar azul…
(como as paredes da casa de banho)
E distraído
como um garoto
que devora a televisão
e engole super-heróis.
PAR - PT
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