terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Cerimônia




Há filmes que não acabam
e chuvas...
há medos que não recuam
e sombras...
há coisas que devia dizer-te
mas não
não há mais nada que possa
dizer
há silêncios por tirar
dos cantos...
acumulados nos rodapés...
há pegadas na areia
não há habitantes no
fundo do mar, no solo
lunar, mas há as naves...
há sinais fechados, sinais
de fumo e muitos gritos
nas salas deste
manicômio em festa
há bandeiras por hastear
e beijos nos orgãos pendentes
uma corrente eléctrica
que enche de sangue
os corpos cavernosos...
depois disso, tudo é gelo
nos polos
há malas esquecidas nas
esteiras dos aeroportos
e no fundo, areias,
carcaças de sereias e
cachalotes...
os olhos aflitos a
perscrutar florestas
petrificadas e fósseis
dos nossos sentimentos
que nós pensávamos
tão modernos, tão
eternos e liberais,
mas não são, as emoções
são arcaicas, as
emoções não são ergonômicas
e incomodam sobremaneira
os músculos da região
lombar...
as emoções são verbos
inconjugáveis, amar,
desejar, perder, as
emoções agrupam-se
para esquecer o inverno...
e nós só queremos
reencontrar os seres
que amámos e arrastar
suas correntes no inferno
sob a chuva, incessante,
de enxofre e a sombra
omnipotente da paixão
e há filmes que nunca
mais acabam.

PAR - PT
10.12.12

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