domingo, 2 de dezembro de 2012

Nem um Tom de Cinza



Deixaram-me cristais de sal
nos espaços dos dentes
madrugadas perdidas
contracções vaginais
lábia lobos limbo
e um trem que passa
lambe os trilhos
leva pessoas que nunca vi
deixa memórias na plataforma
cristais de açúcar
nos cantos dos olhos
e pedras nos rins
uma melancolia suicida
apodera-se da pele
e faz estalar
perfura as paredes
tão brancas
tão brancas
tão brancas
perfura as paredes
e pendura quadros
fotografias cadáveres
um sabor
maníaco-depressivo
dá cor às paredes
tão brancas
tão brancas
algo que não está lá
ocupa agora
o perímetro total
do branco da parede
 e há lâminas nas ranhuras
dos tacos no chão
há lâminas nos cílios
e os olhos ardem
os olhos são tão brancos
e riscados de vermelho
os olhos
o branco dos olhos
no branco das paredes
e a neve que cai
nunca é branca
a neve tem a cor
que a neve tem
quando não é branca...

PAR - PT

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