quarta-feira, 5 de janeiro de 2005

Pela manhã, quando ele sai para trabalhar!


Terá ele estado ao pé de mim?
Porque adormeci
A pensar nele?
Se pelo menos soubesse que sonhava,
Nunca teria acordado.
Acho que em meus sonhos

Seremos capazes de nos encontrar…

Mexo o travesseiro

Para lá e para cá na cama, completamente

Incapaz de dormir.

O cheiro dele flutua no quarto

Aporta em meus pelos

Fica colado aos meus órgãos…

O cheiro dele penetra-me

Invade meu nariz…

Ouço ao longe

O som dos seus órgãos

A produzir líquidos

Humores densos

Recordo o eco de sua ejaculação.

Gemo em eco aos gemidos dele

Grito meus orgasmos

Sobre o corpo dele

Deito-me quieto e sem ar

Sobre sua púbis.

Jorro sobre o lugar vazio na cama

Meus desejos mais vorazes

E agarro o travesseiro

Como se fosse seu corpo

Beijo o travesseiro e adormeço

Sinto em mim seu abraço

À minha volta seus braços

Que não estão lá

Mas que me prendem como as tenazes.

Pela manhã, quando ele sai…

Todo bonito para trabalhar

Eu viro meu corpo

Para o lado da cama em que ele

Deixou seu cheiro e a voz dele

Que ainda diz que me ama.

1 comentário:

Mineiras, Uai! disse...

Quando comecei a ler teu texto, pensei logo:
"Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã
E sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã..." (Chico Buarque - Cotidiano)
Logo caí em mim, e continuei lendo este texto visceral, forte e as imagens simplesmente brotavam em minha cabeça... Parabéns!
Abraços
Ana Letícia

Santa Poesia