Giovanno Pietro Caraffa
28 de Junho de 1476 a 18 de Agosto de 1559
(Feliz Aniversário)
Paulo IV aplicou o seu zelo ao esmagamento da heresia,
mas neste assunto o seu fervor levou-o a extremos
que tornaram ainda mais turbulento o seu já
controvertido pontificado. É de Paulo IV a frase:
"Se meu pai fosse herético, eu iria apanhar lenha para queimá-lo".
Quando cardeal, tinha dirigido a Inquisição no tempo de Paulo III.
Ao chegar ao Trono de São Pedro, decretou que a Inquisição
"não estava em condições de usar de delicadeza".
Para Paulo IV, a Inqusição era "a menina dos olhos,
a preferida do seu coração"; O embaixador veneziano
em Roma, escreveu: "A violência do Papa é sempre grande,
mas, quando se trata da Inquisição, é realmente indizível.
No dia da semana fixado por ele para a reunião da comissão,
a quinta-feira, não há nada no mundo que o impeça de realizá-la.
Lembro-me de que, no dia em que os espanhóis se
apoderaram de Anagni, quando toda a Roma corria para
pegar em armas, temendo pela sua vida e pelos seus bens,
Paulo IV foi presidir o Santo Ofício e tratou com toda
a impassibilidade dos assuntos da ordem do dia,
como se os inimigos não estivessem às portas da cidade".
A Inquisição, assim confiada a um prior dominicano tão
rígido quanto ele, Miguel Ghislieri - futuro São Pio V -
tornou-se o terror de Roma, com poderes excepcionais.
Perseguiu impiedosamente todos os suspeitos de
procedimento heterodoxo, toda a aparência de heresia,
e a ordem de nunca hesitar em castigar -se fosse o caso -
as personagens mais eminentes, para que o castigo
servisse de lição. Assim, todas as quintas-feiras o papa
era visto presidindo a Inquisição, e julgando todos
os suspeitos: vendedores de livros de idéias perniciosas,
judeus e mouros. Paulo IV fez com que os judeus
usassem um chapéu cônico para os distinguir visualmente
dos cristãos, e os manteve nos limites de seu gueto.
O papa Caraffa, seguindo os passos de Paulo III e
ultrapassando-os largamente, mandou elaborar
o Index Librorum Prohibitorum, o catálogo dos livros nocivos,
que em breve passaria ao controle de uma congregação
romana especialmente reunida para este assunto.
Sessenta e um livreiros foram poibidos de fazer edições
(até os Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola,
fundador dos jesuitas, foi censurado!). Neste momento,
toda a obra de Erasmo de Roterdam foi censurada,
simplesmente por antipatia ao autor
(medida essa revogada pelo papa seguinte, Pio IV,
que determinou que apenas o que fosse considerado
contrário à fé deveria permanecer interditado).
O exagero do Index sob o governo de Paulo IV foi
tão abusivo, que um santo (São Pedro Canísio),
posteriormente trataria esta repressão excessiva
como "Pedra de Escândalo".
Quanto à Inquisição, esta não poupava pessoa alguma.
O cardeal Morone, conhecido por ser um célebre diplomata,
ousou dizer que a violência em matéria religiosa nunca
dera bons frutos, e por causa disso foi encarcerado
no castelo de Sant'Angelo. O cardeal Reginald Pole
disse o mesmo, e por isso foi privado da função de
legado papal na Inglaterra. Foi intimado a comparecer em Roma,
no que foi impedido pela sua rainha, Maria Tudor,
que provavelmente percebeu o que estava reservado
para o seu cardeal... O patriarca de Aquiléia desculpou
um pregador pelo mesmo ter falado da predestinação
de forma pouco profunda, e por isso foi intimado a explicar-se.
Saiu inocentado, mas por causa disso perdeu o
chapéu cardinalício que lhe fora prometido...
Paulo IV convidou todos os Estados a pôr em funcionamento a Inquisição;
a França recusou-se, mas a Espanha, onde o tribunal
já era poderoso desde os tempos da reconquista,
entregou-se a essa tarefa de corpo e alma.
Então se perseguiram todos os restos de luteranos,
todos o erasmismo (pensadores baseados em Erasmo de Roterdan),
todos os "alumbrados" verdadeiros ou falsos...
Foram condenados livros admiráveis, como o de São João da Cruz
- "Audi, filia". A própria Santa Teresa de Ávila
despertou suspeitas! Milhares de obras foram
lançadas ao fogo. O arcebispo dominicano Bartolomeu Carranza,
perseguido pelo seu confrade Cano, o inquisidor,
que dele diziam "farejar a heresia a dez léguas",
terminou por ser preso por ter feito um comentário
considerado suspeito sobre o catecismo.
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