segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Estados Alterados










 
Eu quero dar forma às nuvens,
Sem nunca parar em esquinas,
Sempre cambalear em linha reta,
À espera que a puta da vida
Nunca me venha a atropelar…
 
Empinado e de ombros largos,
Peito aberto e braços soltos,
Cagando e andando para a sorte,
Baixar meus escudos polidos
E armaduras de prata e ouro,
Deixar saltar-me em cima a vida.
 
Contar minhas fobias a todos,
Deixar-me amedrontar pelas deles,
Ter para todas as perguntas tolas,
As respostas na ponta dos dedos.
 
Eu quero partir o lacre das coisas,
Que guardei comigo para alguém.
Deixar de cantar nesse samba
O enredo histórico obrigatório,
Deixar-me de ladainhas e canjas.
 
Eu quero ser como um trigal
Que quando sente saudades
Da terra, pede ao vento que 
O curve em direção a ela…
 
Quero ser a espuma de um rio
Limpo dos efeitos do sabão.
Quero não ter nem erros nem acertos.
Quero apenas querer-me bem…
 
Quero que o sol me perfure as íris.
E a chuva seja lágrimas em mim.
Quero cristalizar meus momentos
Em pedras preciosas e arco-íris.
 
Quero muito e quase tudo,
Quero falar e ser mudo…
Pareço muito modesto, mas não sou…
 
Eu sou o avesso da vontade dos outros.
O reverso dos desejos de todos os homens.
Eu sou a fome que dorme na carne da maçã.
As altas temperaturas das costas africanas.
Eu sou só eu, doa isso a quem doer.

PAR - PT

2 comentários:

____ disse...

Por tudo que eu leio nas minhas caminhadas por aqui...é... esse é você mesmo.

Pessoal, não é? Muito.

Um achado que nunca vou esquecer:
"Eu quero ser como um trigal Que quando sente saudades Da terra, pede ao vento que O curve em direção a ela…"

Sempre tive essa fotografia na minha cabeça, mas nunca transcrevi, coisa que fizestes com maestria

Abraço mosntruoso em ti, meu amigo!

Marcos Burian (Buriol) disse...

Genial, meu caro, genial. E se é pessoal como nosso amigo Símbolo afirma, podes crer que tena irmãos próximos nesta terra de loucos...

Santa Poesia