quarta-feira, 31 de março de 2010

31.03.2010



a língua moranga os dentes
a flor pimenta o nariz

e faço existir alternâncias
sou de um mar que não encapela
anseio o vinagre dos beijos
minhas memórias fazem
surgir os buracos nos queijos

o nariz baunilha os olhos
o fruto laranja os dedos

e trago nas mãos abundâncias
sou cornucópia sem volutas
aspiro aos arcos dos tectos
minhas palavras iluminam
as escamas dos peixes.

Paulo Ramos - Trofa - Portugal

terça-feira, 30 de março de 2010

Saudade

Cidade vazia
teu nome
em toda a parte:
Muros, Carros,
Viadutos, nas Ruas...
Em todo o lado,
teu nome repetido
ao expoente zero
do obsoleto.
Para lembrar que amor
é abstracção
Mesmo quando
exorcizado no concreto.
 
Paulo Ramos - Trofa - Portugal

30.03.2010

assim como viera
para perto de mim
à procura de calor
ou por medo ou,
ainda, dor...
encolhido sobre mim
e a pulsar
e a saltar
a tentar ficar
a tentar fugir
a tentar...*

subir pelas paredes
lindas de papel azul
e flores desenhadas
com cuidado e zelo
para ninguém vê-las
pois ninguém sabe
colher orquídeas esquecidas
ou tórridas margaridas.

Paulo Ramos - Trofa - Portugal

* de quando ainda me lembrava de tentar esquecer!

segunda-feira, 29 de março de 2010

29.03.2010

Compilei uma enciclopédia
de orquídeas
amontoei pesadelos
dei meu primeiro
passo no espaço
descobri que há um sei lá
em certas coisas
que ser nenhum jamais
saberá decifrar...

Paulo Ramos - Trofa - Portugal

Raio X

C a i U
e P A r t i U
o O l h O s s O
do P e R N a R i Z

Paulo Ramos - Trofa - Portugal


domingo, 28 de março de 2010

28.03.2010

agora sei de alguém
que te ama tanto ou
mais do que eu assim
sem mais nem menos
assim como um momento
que separa um dia do
outro e as estrelas
no firmamento...

Paulo Ramos - Trofa - Portugal

sábado, 27 de março de 2010

27.03.2010

quero que me queiras
que quase me quebres
os quadris
mas caso não queiras
querer-me...

          qualquer coisa!

Paulo Ramos - Trofa - Portugal

*escrito há 27 anos atrás para Adriana Italo

sexta-feira, 26 de março de 2010

26.03.2010





















queria
aportar
e dar nome
aos grãos de
areia enfunar velas
e navegar nos olhos...

Paulo Ramos - Trofa - Portugal

quinta-feira, 25 de março de 2010

25.03.2010

perdi a linha de raciocínio
e fiquei, ali, estátua à tua
espera a contar os nós
dos dedos a regurgitar
meus medos desdobrei
meus nervos ateus, nunca
estive tão vazio em tão
estúpida suspensão
nem calor nem frio
cabeça às voltas e um
enjoo, náusea, infernal.

Paulo Ramos - Trofa - Portugal

Assim...



uck the ystem
uck my ick
ick my alls
iss my ass...

Paulo Ramos - Trofa - Portugal

quarta-feira, 24 de março de 2010

24.03.2010

quero gritar nas dobras
da noite afoita
desencantar os sonhos
na manhã aflita
afugentar fantasmas
no fim da tarde atónita
quero girar num corpo
numa espiral perfeita
tempestade tropical
uncartrose cervical
a dor a gritar
nos vincos da noite
a noite a gritar
suas auroras e a
noite demorada
debruça-se na janela
e vê passar a procissão
a noite ainda vai no adro
carregada de chagas
a noite verte dos olhos
dos insones e adormece
o leito de todos os rios
a noite perscruta
a insondabilidade

Paulo Ramos - Trofa - Portugal

Conversas


Conversa matinal de um Casal
Autorizado a Casar-se em Portugal.


Homossexual 1 diz (9:59):



*Notícia, desnecessária, do I online!


Homossexual 2 diz (9:59):


*QUAL?


Homossexual 1 diz (9:59):


*"Portugal é o país da Europa
com mais doentes mentais."


Homossexual 2 diz (9:59):


*No shit???


Homossexual 1 diz (9:59):


*disso já nós sabíamos...


Homossexual 1 diz (10:00):


*A começar pelo Presidente da República.
E já vamos à frente em 5 desportos diferentes... Yuppie!!!


Homossexual 1 diz (10:02):


*Mais Pobres... yeah! Mais Endividados... Hurra!
Mais Desempregados... Viva! Mais Corruptos... Salve!!!
E, agora, também temos os Mais Doentes Mentais!!


Homossexual 1 diz (10:03):


*Vamos lá, com a ajuda de todos, podemos lá chegar
em muitas mais modalidades!!!


Homossexual 2 diz (10:03):


*Pois é...

terça-feira, 23 de março de 2010

Concentra-te...

... ouve com atenção
o brilho dos meus olhos!

Paulo Ramos - Trofa - Portugal




23.03.2010

dir-me-ias tantos vazios como
quem mastigasse meu tempo
e depois andasse a cuspir
teoremas axiomas e pão
de forma a que eu fora
sempre atento aos teus senões
e cossenos e tangentes como
se amorosamente te partisse
todos os dentes de alho...

Paulo Ramos - Trofa - Portugal

segunda-feira, 22 de março de 2010

22.03.2010

cada um é aquilo que sua.

eu sou um ser que se poema
tu és um ser que me medusa
ele é um ser que nos dilema

cada um é aquilo que usa.

Paulo Ramos - Trofa - Portugal

domingo, 21 de março de 2010

Reflexo



... O outro pouco me importa
porque o outro é eu
sem saber que o sou...

Paulo Ramos - Trofa - Portugal

21.03.2010

Píngua Lortuguêsa



odiam und ial dapo esia
quesig nif icado te ria
sem quef osse oúnic odia
emque nen huma sedir ia...

Paulo Ramos - Trofa - Portugal

Poesia e Árvores



Quero desejar a todas
as Árvores, um feliz dia
da Poesia, e vice-versa
embora não exactamente
nessa mesma ordem...

Paulo Ramos - Trofa - Portugal

sábado, 20 de março de 2010

Agora


...gosto muito de contar o tempo
para mim será sempre amanhontem!...

Paulo Ramos - Trofa - Portugal

20.03.2010


















à tua espera num pesadêlo
tudo branco e claro
e tão pouco
à tua volta num pé-de-vento
tudo calmo e lento
e tão pouco
à tua frente num turbilhão
tudo liso e pouco
e tão

Paulo Ramos - Trofa - Portugal

sexta-feira, 19 de março de 2010

19.03.2010

de que fugiste tu
pessoa amada
que foi que te deu
o tempo que te tirou
de mim, de repente,
cedo demais, longe
demais e triste
deixaste-me vazio
deixaste-me cheio
de falta de ti...
beijo...

Paulo Ramos - Trofa - Portugal

quinta-feira, 18 de março de 2010

18.03.2010

tantos galos, tantos despertares
um ser que se poema
que rima certo
corre para o nada
e volta a cada, porquê?
o curto lembrar-se
de um agricultor, tu o dizes.
membros firmes, contexto.
um animal ladra, calçada
e um homem descalço
o texto: adoça!

Paulo Ramos - Trofa - Portugal

quarta-feira, 17 de março de 2010

17.03.2010

compus tantas canções
que não posso cantar mais
rimei tantos arrepios
com as pontas dos teus dedos
enchi as gavetas com lembranças
deixei à deriva a saudade
num mar-espelho-memória
contrapus tua sombra à luz
do sol posto em meus sonhos
e deixei-te habitar, discretamente,
o fundo do meu coração!

Paulo Ramos - Trofa - Portugal

terça-feira, 16 de março de 2010

Mulher Amada



Adriana Maria Raposo Ítalo,
foi uma das mulheres que mais amei
em toda a Minha vida,
estivemos muito tempo juntos como amigos
e colegas do curso de Biologia da USU,
depois tivemos um namoro
de contornos fortes
e com minha vinda para Portugal
perdi-lhe o rastro, e agora,
descubro sofridamente que além de mulher amada
passará a ser, para mim, memória adorada...
Paulo Acacio Ramos

P.S.: Ainda te Amo, "Monstrinho", onde quer que tu estejas!

16.03.2010





















as palavras saíam
em turbilhão
desde a garganta
como prece
ou quase mantra
as palavras vinham
vômitos ininterruptos
as palavras eram
todas de anteontem
as palavras voavam
pela boca a fora
e cheiravam a mofo!

Paulo Ramos - Trofa - Portugal

segunda-feira, 15 de março de 2010

15.03.2010



Gosto do momento de limpar um peixe...
de esventrá-lo como quando escrevo
e reviro as entranhas do poema exponho
e atiro ao lixo a sangrenta gramática linguada,
converto o peixe em dinâmica e verto sua
carne balsâmica crio o poema-peixe-bólido
e deixo que nade até se fazer nada no rio
de frases que transbordam teus ouvidos
de oceanos e abismos, deixo que nade
o peixe, deixo que nade o poema e
permito-me afogar num fonema...

Paulo Ramos - Trofa - Portugal


domingo, 14 de março de 2010

14.03.2010

Este meu jeito às avessas
De fazer as coisas...
Essa tortura,
Essas marcas indissolúveis
Dos açoites do tempo impossível
Fazem sangrar a alma inebriada
De um sangue escuro e escasso e denso
Desassossegou o meu dia
Penetrou as minhas nuvens,
Inundou-me com o seu Sol,
Fez-me rir com alegria.
Olhos negros de breu
Vêm aqui ter comigo
Tristes, profundos e vivos
Tão pouco reais
Tão transitórios
Tão raio de luar!

Paulo Ramos - Trofa - Portugal

sábado, 13 de março de 2010

13.03.2010

vingar-me-ei
um dia
talvez
de não me teres
dado o amor
que tinhas
dando-te
talvez
um dia
o amor que
não tinhas...

Paulo Ramos -
Trofa -
Portugal

sexta-feira, 12 de março de 2010

12.03.2010

mastigo-nos
cacos de vidro
e regorgito-te
em cristalinas
contas de desejo...

e tudo arde
pela tarde
sem alarde

não quero que me dês
absolutamente nada
uma vez que quero
apenas e somente tudo.

Paulo Ramos - Trofa - Potugal

quinta-feira, 11 de março de 2010

Taquicardias

Quando nos dizem:
- "Ouve o que te diz o Coração!"
É melhor fazê-lo, pois pode
ser que ele diga:
- "Doenças Coronárias!!!"

Paulo Ramos - Trofa - Portugal

11.03.2010









































A carne que treme
Dentro da derme
Será bem breve
Alimento do verme
E encarnada
Pende cortada
Nas montras do talho.

Ainda outro dia
Pastava tão verde
Distante das coisas
Sem medos nem fé
Ainda outro dia
Engordava vadia
A teta mungia.

O leite que escorre
Pelas gargantas
O leite que se esfrega
Na derme gorda
O leite que se derrama
E se chora depois
Com lágrimas puras
E olhos de bois.

As carnes massivas
De convites aos dentes
Tão moles e densas
De sebos pendentes
Que trazem delícias
Sugerem malícias
Piscinas de sangue
E natas tão brancas.

Nacos de coisas
Pedaços de bichos
Cálidos colos
Para deitar a língua
Enquanto outros bichos
Morrem à mingua
Sagradas e lindas
As vacas são putas
Que atendem aos gostos
De todos os outros.

São muitas as vacas
Tão poucas as loucas.


Paulo Ramos - Trofa - Portugal

quarta-feira, 10 de março de 2010

10.03.2010

Incauto Retrato

amamenta-me
canta-me acalantos
encanta-me
lambe meu sexo
com teu olhar
acalenta-me
põe-me no colo
lambe-me o olhar
com teu sexo.

Paulo Ramos - Trofa - Portugal

Palíndromo Tautológico

Quero dizer-te
com quantas figuras de estilo
se faz uma gramática...

Paulo Ramos


terça-feira, 9 de março de 2010

09.03.2010




















A girafa não fala.
Pois tem o pescoço
tão longo, que quando
a voz vem a subir
os sete degraus
de tais vértebras,
a pensar, questiona-se:

- "Valerá tanto seco esforço?"

E assim volta, a escorregar,
para o silêncio
de tão charmoso dorso.

Há quem acredite ter visto
a girafa a comer estrelas
com sua língua comprida
a enrolar-se no firmamento.

Mas, mesmo ao considerar-se
o tamanho de seu pescoço
tal afirmativa não tem
qualquer base ou fundamento.

Paulo Ramos - Trofa - Portugal
 
Obs: Se não deu para perceber, sou apaixonado por Girafas!

segunda-feira, 8 de março de 2010

08.03.2010

vento amarrado
seguem os pássaros
de algodão
com asas de cimento
caem uns sobre outros
amontoados em penas
pequeninas
nuvens empanturradas
espremem-se
brancas
nas frestas do céu!

Paulo Ramos - Trofa - Portugal

domingo, 7 de março de 2010

Um Soneto...

... sonolento absoluto e obsoleto...



Paulo Ramos

07.03.2010

amigo
é vício
início
estrupício
precipício
comício
amigo
é laço
é abraço
regaço
melaço
espaço
amigo
é grave
é trave
conclave
ave e nave
amigo
é abrigo
é trigo
umbigo
é pão e mão
irmão
amigo
é paixão!

Paulo Ramos - Trofa - Portugal

sábado, 6 de março de 2010

06.03.2010

foste lenta
borboleta
que esvoaça
na noite
fria
na rua
devassa
foste luta
foste puta
que labuta
na noite
cálida (calada)
na rua
pálida(sólida)
foste prata
foste rata
que dilata
na noite
faca de seda
na rua
que mata
roupa lavada
na baínha
da calçada...

Paulo Ramos - Trofa - Portugal

sexta-feira, 5 de março de 2010

05.03.2010

momentos
são apenas (somente)
elementos
sem penas
de um tempo
que passa
atento
sedento
à procura
do cristal
dos rios
das rochas
dos sedimentos
memórias (sementes)
renitentes
recorrentes
de coisas
inexistentes.

Paulo Ramos - Trofa - Portugal

quinta-feira, 4 de março de 2010

Autocitação Retroagente Reflexiva...

..."é possível sentir
o cheiro da luz
do sol na pele
de quem amamos!!!"...

Paulo Ramos - Trofa - Portugal


04.03.2010

voz de carpir
voz de incorporar
o grito-fantasma
avisa que os anjos
estão todos mortos
e não há mais voz
que cante alada

(encantada)

voz de cuspir
voz de exorcizar
o fantasma-grito
arranca as penas
das asas dos anjos
e não há mais asa
que voe calada...

Paulo Ramos - Trofa - Portugal

quarta-feira, 3 de março de 2010

03.03.2010

pela tarde
desaba grito
nuvem-silêncio
a tarde
escreve a tempestade
por extenso
a tarde grita
o granizo
entre os dentes
a tarde inverte
vento e asa
arranca as telhas
e o chão da casa
pela tarde
ouve-se o grito
a ecoar
no silêncio das vacas.

Paulo Ramos - Trofa - Portugal

Comentários SEM Comentários!!!



Patricia:

Nossa, querido, essa foto do seu perfil está o máximo!!!!!!!!! Como tudo que você faz. Mil beijos


Joaquim Cardoso:

Querido Paulo:

Um forte abraço, amigo!!!


Humberto:

Nunca te li em poemas mais longos: maravilha!


کลήĐrล Amorim:

Vc não me convence com essa imagem pq meus amigos
portugueses do Second Life dizem que ai na "Terrinha"
ta um frio DO CÃO =P
Obs sua frase do profile te define bem.

Beijos!

Há! Mas a foto ficou 10! ^.~


Joaquim Cardoso:

Olha, porquê???

Porque sabes escrever e transmitir por palavras gestos tão altos...


Joaquim Cardoso:

és muito especial!!!


Carlos:

DO GOLPE

Numa visada selvagem, cortarei o espaço em redemoinhos
e sangrar-lhe-ei a aura: sombra fraturada de cor e nada.

Carlos Tenreiro

Beijos, amigo. Obrigado sempre.

terça-feira, 2 de março de 2010

Celacanto Provoca Maremoto

Não Sofro da Cegueira
do Meu Pai
Mas Sigo na Noite-Breu
à Procura
dos Seus Olhos...

Paulo Ramos - Trofa - Portugal

02.03.2010


















o céu assoma
em formas de frutas
(semióticas) escolhidas
então anoitece
e apaga-se o sol
nos signos
cardinais (cardeais)

de um beijo arredio
planetas e satélites
orbitam (cardíacos)
como o sangue.

Paulo Ramos - Trofa - Portugal

segunda-feira, 1 de março de 2010

Multiplica-se a base pela Altura























Um Homem é um Homem, Independentemente da Altura do Salto...

Paulo Ramos - Trofa - Portugal

01.03.2010

agora diz-me
quem foi que abriu o portão
e soltou os bichos
cortou-lhes as cabeças
sete vacas e um minotauro
toureiros nus a dançar no ar
as vacas a olhar
cheias de tédio
as capas vermelhas
a mastigar seus sonhos
e os toureiros (sempre nus)
a agitar suas capas no ar
os toureiros e seus genitais
expostos a matar de tédio
as vacas daltônicas
e o portão aberto
o rebanho em fuga
milhares de cabeças
sem destino a perfurar
os corpos dos toureiros
(ainda nus) a arrastarem-se
no interior do labirinto
cheios de bandarilhas
nas costas nuas...

Paulo Ramos - Trofa - Portugal

Santa Poesia