quinta-feira, 7 de outubro de 2010

07.10.2010





gostava de entregar-se inteiro
a essas desnecessidades que
se lhe apresentavam soltas
sem origem e ainda mais
sem direcção
tinha corpo de se fazer
mole como os doces de jaca
doce como jaboticaba
doce e a língua nunca
mais acaba
abrir o livro e não ler
fechar e voltar a abrir
e novamente deixar de ler
gostava de cenas uterinas
e gritos na rua perdidos
no som dos automóveis
na lua perdidos na
não-propagação do som
gostava de ser histérico
e contar as listras
das zebras que corriam
gastava a esperança
em desistências mudas
e mordidas na gola
da camisa
com aquele som quase
inaudível de dentes
a roçar tecido
gostava de habitar cubículos
partir paredes e cascas 
de ovos quebra-cabeças
gesticulava em demasia
acenava contorcia cruzava
os braços
gostava de escorregar
ladeira abaixo
desabalava-se em avalanches
e deslizava gota
no vidro dos olhos
que não habitava!


PAR - PT

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