terça-feira, 20 de abril de 2010

Calmarias

...Um vento solar arrasta poeira cósmica e varre pétalas de girassol…
ao fundo, longe, quase invisíveis, os vestidinhos brancos e solenes,
tremulam. Deitam no ar o cheiro das virgens e das viúvas.
Meu pensamento tem a cor daqueles vestidos e o sol imprime nódoas
à pele e aos tecidos. Endurece o cimento do desejo.
Ilumina os músculos húmidos dos trabalhadores da construção civil… e o Carnaval acontece em mim.

À minha volta giram, como cata-ventos, puros, os homens
com seus vestidinhos de primeira comunhão. Giram no ar como
libélulas nacaradas, os homens montados em seus cavalos-marinhos,
nus de seus preconceitos, com seus vestidinhos cor de girafa.
Leves, elegantes, peremptórios, ígneos e discretos como as girafas.
Os homens imaculados transformam-se em meninas-girafas com suas
malhas castanhas e pernas de bailarinas.

As girafas passam por mim com suas crinas em chamas, em fila indiana, como os guindastes do cais do porto. As girafas, os homens e os girassóis fundem-se num único bloco amarelo, como um contentor metálico (ventre de santa) no porão de um navio, num cais perdido numa das ilhas da Oceânia.

As girafas devoram os girassóis e depois transformam-se em cata-ventos…


PAR_TO - Trofa - Portugal

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