quarta-feira, 21 de abril de 2010
Translúcido
Poderá um mar serenar meu peito,
E pela vida, ondear seu leito,
Apenas para te ecoar,
E nessa concha que és tu, soar.
Poderá uma dor brotar na pele,
Num designado outono sem fim.
Poderei eu mar, margem ou vento,
Conter o sol nos grãos,
Ou toda a lua ser negra e densa.
Posso eu jardim por inventar.
Posso eu poema por rimar,
palavras por vestir.
O tempo que elas encerram
para lá do que leva a dizê-las
mesmo em todas as suas pausas.
Os sentires que contêm
muito além das suas letras
por entre espaços que aninham.
O quanto só por te pensar,
o quanto só por (não) te saber,
o quanto do silêncio não presença…
O prato (sempre) vazio e inerte,
o soalho que não range.
Gosto da dimensão da minha saudade.
Este acelerar
neste sereno indolente,
Este estagnar
neste correr demente,
Simples querer do teu sorriso…
Gostava que lesses a real dimensão
das palavras da minha saudade.
Não consigo.
Não sigo.
Fico cego.
PAR_TO - Trofa - Portugal
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