segunda-feira, 19 de julho de 2010

Mayakovsky

 Vladimir Vladimirovich Mayakovsky 
19 de Julho 1893 a 14 de Abril de 1930

(Feliz Aniversário)


Maiakóvski é o maior poeta russo moderno, aquele que 
mais completamente expressou, nas décadas em torno 
da Revolução de Outubro, os novos e contraditórios 
conteúdos do tempo e as novas formas que estes demandavam.
Maiakóvski deixa descortinar em sua poesia um roteiro 
coerente, dos primeiros poemas, nitidamente de 
pesquisa, aos últimos, de largo hausto, mas sempre 
marcados pela invenção. 
"Sem forma revolucionária não há arte revolucionária"
era o seu lema, e nesse sentido Maiakóvski é um dos raros 
poetas que conseguiram realizar poesia participante 
sem abdicar do espírito criativo.

EU
Nas calçadas pisadas
                   de minha alma
passadas de loucos estalam
calcâneo de frases ásperas
             Onde
                    forcas
                esganam cidades
e em nós de nuvens coagulam
             pescoço de torres
       oblíquas

   soluçando eu avanço por vias que se encruz-
                                                           ilham
à vista
de cruci-
fixos

       polícias


(tradução:  Haroldo de Campos)





FRAGMENTOS
1
Me quer ? Não me quer ? As mãos torcidas
os dedos
               despedaçados um a um extraio
assim tira a sorte enquanto
                                       no ar de maio
caem as pétalas das margaridas
Que a tesoura e a navalha revelem as cãs e
que a prata dos anos tinja seu perdão
                                                      penso
e espero que eu jamais alcance
a impudente idade do bom senso

2
Passa da uma 
                     você deve estar na cama
Você talvez
                 sinta o mesmo no seu quarto
Não tenho pressa
                          Para que acordar-te
com o
         relâmpago
                        de mais um telegrama

3
O mar se vai
o mar de sono se esvai
Como se diz: o caso está enterrado
a canoa do amor se quebrou no quotidiano
Estamos quites
Inútil o apanhado
da mútua dor mútua quota de dano

4
Passa de uma você deve estar na cama
À noite a Via Láctea é um Oka de prata
Não tenho pressa para que acordar-te
com relâmpago de mais um telegrama
como se diz o caso está enterrado
a canoa do amor se quebrou no quotidiano
Estamos quites inútil o apanhado
da mútua do mútua quota de dano
Vê como tudo agora emudeceu
Que tributo de estrelas a noite impôs ao céu
em horas como esta eu me ergo e converso
com os séculos a história do universo

5
Sei o puldo das palavras a sirene das palavras
Não as que se aplaudem do alto dos teatros
Mas as que arrancam caixões da treva
e os põem a caminhar quadrúpedes de cedro
Às vezes as relegam inauditas inéditas
Mas a palavra galopa com a cilha tensa
ressoa os séculos e os trens rastejam
para lamber as mãos calosas da poesia
Sei o pulso das palavras parecem fumaça
Pétalas caídas sob o calcanhar da dança
Mas o homem com lábios alma carcaça.



(tradução:  Augusto de Campos)


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