quinta-feira, 15 de julho de 2010

Jacques Derrida

Jacques Derrida 
15 de Julho de 1930 a 8 de Outubro de 2004

(Feliz Aniversário)



[...] O ritual (do pharmakós) era uma dessas antigas práticas 
de purificação. Se uma calamidade se abatia sobre a cidade, 
exprimindo a cólera de deus – fome, peste ou qualquer outra 
catástrofe – o homem mais feio de todos era conduzido como 
que a um sacrifício como forma de purificação e remédio para 
o sofrimento da cidade. Excluindo violentamente de seu 
território o representante da ameaça ou agressão exterior. 
Quando uma calamidade tal como a seca ou a fome se 
abatia sobre a cidade, eles sacrificavam dois desses reprovados, 
como bodes expiatórios. A cerimônia do pharmakós se passa 
no limite de dentro e do fora que ela tem por função traçar e 
retraçar sem cessar: intramuros/extramuros. 
A prática ritual, que tinha lugar em Abdera, em Thrace, 
em Marselha etc. reproduzia-se todos os anos em Atenas. 
E ainda no século V Aristófanes e Lísias fazem claras 
alusões a isso. Platão não podia ignorá-lo. A data da 
cerimônia é notável: o sexto dia das Targélias. 
Angustiante e apaziguador, sagrado e maldito, 
o pharmakós requer que a surpresa seja prevenida: 
pela regra, pela lei, pela regularidade, pela repetição, 
pela data fixa. Sócrates nasceu no sexto dia das Targélias: 
o dia em que os atenienses purificam a cidade.[...]

Jacques Derrida - excerto de A Farmácia de Platão

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