sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Os 13 Trabalhos de uma Mão Paralisada.




Todo o ser é obra, todo o ser é primo e cromo… Os seres todos são unos e monos e simples…quase todos, os seres, são básicos e alguns seres são humanos, sendo que a maioria o ignora! Vírus a infectar galáxias! Seres aquáticos porque molhados, seres aéreos porque aluados. Seres terrestres porque enterrados, seres ígneos esturricados. Dragões, sereias, quimeras ou esfinges, cada ser só é aquilo que ser finge.

Todo o ser é obra, todo o ser é presa e massa… Os seres todos são carbono e fibra e tónus… Quase todos, os seres, são complexos e alguns seres são humanos, sendo que a maioria o ignora! Astronautas em gotas d’água! Seres barrocos porque história, seres modernos porque histeria. Trogloditas e poliglotas. Sacrossantos e idiotas.

Todo o ser é página virada no livro da vida, todo o ser é escrita borrada no rascunho do mapa do inferno. Todo o ser é humor e licor e sangue, e suor, e saliva…

Todo o ser é metástase da luz solar no azul-marinho do céu de um Outono eterno, todo o ser é pasta, é massa, barro e argila. Todo o ser é um parasita na pele das cobras, é toxina nos arcos de meio ponto, todo o ser é eléctrico e humano, sendo que a maioria o ignora! Azulejaria nas paredes dos conventos, pão e rosas nos colos níveos das rainhas.

Todo o ser vivo é um acumulo de células mortas. Todo o ser é Arte, todo o ser é parte da Arte do outro, todo o ser é a outra parte, não complementar, daquilo que foi preservado da quintessência da Arte do outro.

Todo o ser vivo é descoberta e caravela e carta de amor sem destinatário…alguns seres humanos são humanos, sendo que a maioria o ignora! Todo o ser é maçã na boca de Eva e na boca de uma qualquer princesa de conto da infância…todo o ser é pecado mortal e perdão eterno.

Todo o ser é sorriso e enigma e signo. Todo o ser é museu e galeria e parede. Todo o ser é obra-prima a que nenhum outro ser liga a mínima. Todo o ser é cemitério e urna, depositário do fazer de outro ser, da cinza do corpo amoroso de um outro, qualquer, ser, que não lhe é dominante, porque amante, porque sempre e depois e antes.

Todo o ser é água atirada ao chão, atirada ao azeite da sociedade ou ao vinagre de Deus, à saliva da boca dos ateus.





Paulo Acacio Ramos

2007

1 comentário:

Jack vestida de loba e uivando...ou balindo? disse...

Pedras, tacapes, penas, algas, madeiras, sementes, nuvens, amor...

Santa Poesia