sábado, 24 de abril de 2010

24.04.2010



Auto-retrato com o Gato e o Aquário




Tanto me bebo que não consigo
Entender quem suo ou quem fluido.
Assim, vou me escorrendo
Como choro que chove
Pelas ruas, tristes gotas silenciosas.

Exorcizo-me do meu íntimo
Em amor derretido,
Oscilando sólido e líquido num bailado,
Removidas minhas vértebras
Com todo o sentimento perdido
Em doces vapores sublimados.

Esvaecido,
Cada segundo me é alheio,
Mas enquanto me esparjo
Neste enleio,
Busco conter o tormento
Da calma discreta
E recuperar a vida em alento.

Os gatos às vezes
Parecem estar a sorver
O cheiro do sol no ar
Seus bigodes como tentáculos
A tactear o ar
Orelhas como radares
A auscultar no ar
Os restos dos sons reverberatórios
Papeis pardos perdidos
No templo do tempo terminal.

Pareço um clone de mim mesmo
Pareço um palhaço na prateleira
Pareço uma coroa
Numa colecção de não-conchas.
Conhecedor do universo
E ouvinte do silêncio
Visão do invisível
Voz do indizível.
Água no céu
Água no chão
E o peixe nada
Nada de frente
Nada de costas
O peixe nada,
Nada dá ao peixe
O direito da água.

PAR_TO - Trofa - Portugal

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