sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Estaremos, nós, mudados, tanto assim?




Por mais de vinte séculos, filósofos e viajantes (e esta é uma palavra de duplo sentido) registaram supostos e factuais compêndios de criaturas fantásticas, vistas, algures para lá das fronteiras de seus civilizados impérios: Unicórnios, Dragões, Quimeras, Gigantes e Ciclopes; ou ainda figuras andróginas com cabeleiras grotescas e acções simiescas.
A tradição romanesca, iniciada com as narrativas de Alexandre e suas viagens ao oriente, tornou-se uma inspiração para histórias de fabulosas violações das formas “naturais” e influenciou os enciclopedistas e teólogos até à Renascença. As imagens do fabuloso no oriente e as do Diabo no ocidente, usaram, frequentemente, a mesma linguagem, e, muitas vezes, tomaram de empréstimo umas às outras, umas tantas descrições e figuras específicas. Viajantes (hei-los de volta!) Jesuítas (sob efeitos do cânhamo, certamente!) do séc. XVII, na Índia, descreveram por exemplo: “como nos lascivos submundos dos sátiros, Pã e Príapo, na Grécia e Roma...” – os demónios e malefícios dos espíritos da natureza em consórcio com os nativos, os quais, eles próprios, aparecem como bizarros híbridos antropomórficos. Esta tropical concepção do estrangeiro – estranho – alien – monstruoso enfim, é o pecaminoso papista que codifica as energias que não se permitia expressar de uma forma mais directa.
Os continentes novos para os europeus “civilizados”, como África, América e Ásia (paraísos naturais, Budas, Camas Sutras e Carnavais) figuram como libidinosamente erotizados.
Os relatos dos viajantes (aviões, barcos, carros e drogas mais ou menos pesadas) com suas visões da sexualidade de terras remotas, onde, como contam as lendas e relatos foto vídeo registados, há homens com pénis gigantescos e mulheres que se deitam com animais, nesta nossa nova era Vitoriana, fazem dos continentes “terceiro mundo não desenvolvido sem Euros ou Dólares para gastar em viagens físicas ou lisérgicas” os Porno Trópicos de uma imaginação Judaico Cristã Europeia, lanternas mágicas de mentes sobre as quais se projectam seus medos e desejos sexuais reprimidos.


PAR - PT

1 comentário:

Marcos Burian (Buriol) disse...

Estes viajantes, trouxeram à tona tanto obscurantismo. Lamentável de fato.

Eu não sinto meus cabelos hoje. Merda de estado viajante ativado em hora imprópria.

Santa Poesia