terça-feira, 28 de setembro de 2010

Strelitzia reginae






























aos domingos, o pai escala 
uma lateral do telhado, 
procurando encontrar algum lugar 
onde não haja nenhum olhar, 
nada mais a fazer a não ser
despir-se,  recostar-se e abrir 
os braços largamente, cruzam-se 
seus pés e fazem-se num xis, 
um alvo para que o sol concentre 
todas suas energias sobre ele.
o assento da alma, os pelos húmidos, 
respirando, é o pai que chama 
toda a luz que pode para ele, 
em sua exaustão heróica, 
um guerreiro.

se o seguir, quieto como a luz, 
em genuflexão até ao lado dele, 
íntimo como o sol, a caçar aranhas 
no seu tornozelo 
como um mistério velado, 
quero ler a linha do maxilar 
do pai, a história de sua boca, 
a boca em seus ombros, 
sua barriga.
levemente, 
como beijaria uma flor, 
esfregando os lábios ao longo 
do pénis do pai, 
seu gosto é seco 
como o das pétalas, 
grama molhada, 
doce de seda, 
bonecas velhas.

os braços abertos 
e os pés cruzados  
aos pés da cruz recolho
o pai nos braços, 
a afagá-lo como a um milagre,
não para remover feridas 
mas, para saber 
o que realmente é sofrer.  
parece tudo assim tão natural, 
mesmo a boca 
pressionada de encontro
ao corpo do pai…
de onde tudo foi extraído.



PAR - PT

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