sábado, 26 de fevereiro de 2011

26.02.11


por noites e noites ao longo
andei a esmo sem guia
sem guarda sem ti
onde estavas não sei
o frio que sentias
não cobri
tento adivinhar
de que maneira sobrevivias
e não te encontrei
em varandas ajardinadas
ou saguões de hotel
vigiavas-me
eu sei nos luares
sombrios dos campanários
à beira da estrada
fora dos mapas
arca enterrada de piratas
com teus olhos fogos
de artifício
a explodir nos céus
cinzentos dos mares
que naveguei à tua volta
em vão...
devolver ao destinatário
carimbavam todos
os olhares que te remeti
renitente
não desisti dos cartões
com vistas
tão óbvios e retratistas
fiéis aos seus pontos
turísticos
como se os teus olhos
perigosos e lentos
omnipresentes
não os decorassem todos
e depois em pedaços
os deixassem no fundo
de um cesto...
passei dias a beijar teus lábios
no espelho do quarto
e teus olhos não
se encontravam lá
teus olhos de vaca
de loba no cio
o mar lambeu-me
das entranhas
tua ausência
levou-te maré alta
para as costas da terra
do fogo...
fiquei a observar os cavalos
a ruminar tolamente
a grama em frente
à tua casa
as sete setas negras do ciúme
cravaram-se-me ao cerne
da carne
luz vermelha a 45 graus
tango em off...
fase minguante de lua negra...
a faca e a rosa vertem sangue
âncoras tatuadas
calcinhas penduradas no box
a paixão é um monte de pelos
na escova dos dentes
eu estive escondido na rua
pensei que nunca fosses chegar
temos de arranjar um culpado
para os crimes
e façamos a discussão
em termos cordiais...
convenhamos meu anjo
nunca pensaste em me dizer
as mentiras
melancolicamente normais
dos amantes
sempre mantivemos
entre nós
a franqueza dos farsantes...
eu apagava a luz
trancavas a porta
e nós comíamo-nos
em nossa câmara de gás
Mein Got
como nos enganamos
eu usava teu batom
e te cobria de porrada
tu lacrimejavas e ías
à manicure
as tuas unhas vermelhas
carrasqueavam-me
os testículos
doía o inesquecível
ritmo de bater em tuas
nádegas e eu te cobria...
roubavas o lençol
nas noites febris
Março quase findava
ou princípio de Abril...
babei muitas vezes teu ombro
e quase partiste a clavícula
não fiques aí a olhar-me
arregalada
que eu preciso dar um jeito
de limpar o sangue
dos ajulezos da cozinha.

PAR - PT

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