segunda-feira, 22 de novembro de 2010

22.11.2010





















como pudera dizer-te
o que em mim já não cabia
regar umas plantas
dar de comer aos bichos
sentar-me e ler todos os livros
da casa em voz baixa
só para ti
só para dizer-te
o que já não me cabe
o que mais ninguém sabe
refogar uns grãos
torrar uns pães
espremer uns tantos limões
e dizer-te que habitas
cada milímetro branco
da casa, da chama acesa
respiras profundamente
no eco das paredes
como pudera dizer-te
o que a mim já não cabia
o que o corpo não cobria
o que sob a cama escondia
como seria possível
guardar as palavras todas
de cor
não esquecer uma vírgula
não esquecer a duração das pausas
respirar
como poderia dizer-te
o que já não cabia
nas gavetas, nas colheres
dizer-te que habitas
cada milímetro do branco
dos meus olhos
dizer que, assim, de repente,
não sei como poderia dizer-te
o que em mim já não cabia.


PAR - PT

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