terça-feira, 17 de agosto de 2010

17.08.2010











Não me julgues pelo nervo exposto
pela luz absorvida no rosto
o amor deixou em paz meu fígado
num gesto parco, numa boca pouca
saliva desterrada: beijo, beijo, beijo
falei-te de vacas tranquilamente digestivas
e da erva verde que se pode ver
de longe, tão distante, tão ao sul
a boca cala, chama, cala e queima
inflama incêndio reincidente
a boca apanha no ar, palavras pequenas
abocanha sinais gráficos
a boca digere sem dentes
a boca deita, diz, gere o ato de alimentar
abre-se em túnel e tubular desce ao inferno
anjos de eterna queda
asas que alternam ventos
na eterna ausência dos deuses
sonora tocata barroca
para cuíca, gaita de foles, didjeridu,
contrabaixo e berimbau.

PAR - Trofa - PT

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Santa Poesia