quinta-feira, 9 de dezembro de 2004

Cinderela

O serrilhado dos fios,
Aglomerando a noite, com fome.
Os gatinhos a miar,
Embalados dentro de uma caixa,
Primeiro envio de classe federal expressa.
As lâmpadas de rua
Tremulam em um medo de 120 watts,
Testemunhas mudas
Que procuraram por uma voz.
Anatomia das peles de cães esfomeados,
Cercas quebradas com escapes
Que ninguém incorpora.
Os homens pequenos com suas agulhas sujas,
Atolando na trilha das veias
O veneno por engolir.
As vidas quebradas
Sentam-se confortavelmente
Na sombra com os fantasmas
Que batucam dentro dos troncos,
Pedindo para ser deixados vir para fora.
Os meninos desperdiçam esperanças
Nos broches subterrâneos,
Lisos rios como sémen, propagando fetos.
Os corpos doentes, colisão mútua,
No pânico maníaco, dos mucos
Que encheram as bocas.
Um bebé neblina, vagueia as ruas,
Arrastando o resto da placenta atrás,
Cordão umbilical à disposição.
O bebé balança, os olhos cegos
E ossos fracos no meio de uma rua,
Jogando a salto à corda,
Com um cordão umbilical.
Um bebé minúsculo,
coberto no sangue grosso,
Sentando-se na cabeça
De um cervo decapitado,
Tentando afastar-se a galope.
Da tardinha ao alvorecer,
Da cidade à cidade,
Sem um único indício,
Eu procuro o delicado,
Pé delgado onde caiba
Este sapato de cristal.
Da tardinha ao alvorecer,
Eu tento-o em cada um
Com que eu me encontro.
E eu o amo ainda assim,
Mas, oh! Começo a odiar os pés.

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Santa Poesia