quinta-feira, 9 de dezembro de 2004

A essa dimensão estética da representação denominou-se ARTE.

Sempre foi natural do homem procurar o registro puro e simples dos acontecimentos à sua volta. As pinturas rupestres das cavernas pré-históricas, bem como as inscrições hieroglíficas do antigo Egito e imediações, são testemunho desta necessidade, desde os mais remotos tempos. Mas, uma vez dominada a técnica do registro através do desenho, o homem passou então a desenvolver uma dimensão estética destes registros, que se preocupava não apenas com a simples representação, mas uma representação aprazível e coerente. A essa dimensão estética da representação denominou-se ARTE.
Os gregos foram, sem dúvida, os primeiros a teorizarem sobre a natureza da representação artística, seu valor e sua utilidade. Pitágoras, por exemplo, via na música a manifestação artística da matemática, e Aristóteles via na poética (que para os gregos subentendia a manifestação dramática, literária e poética propriamente dita) a mimese da sociedade. Mas quanto à imagem, Platão deu-nos os princípios básicos, válidos até hoje, do comportamento estético frente às artes plásticas, e que hoje podemos estender até a fotografia, visto que ela também trata primordialmente da imagem.

Para Platão, existem dois tipos de imagem: Uma objetiva, detectada por nossos sentidos da consciência, e outra subjetiva, advinda de uma idéia, de um pensamento. A necessidade desta subdivisão entre o mundo real e o mundo das idéias partiu da premissa de que tudo o que existe no mundo real é fruto do mundo das idéias. Embora os atributos filosóficos desta premissa quanto ao mundo natural sejam deveras complexos e necessitariam de um estudo específico para tal, podemos nos fixar, para fins do presente estudo, nas artes, da qual a fotografia faz parte (1). No campo da arte, não há como duvidar que toda a produção artística provém de uma idéia, e é manifestada no objeto de arte pelo artesão competente para tal. A idéia, portanto, antecede a realidade estética, e nela situa-se a matriz criadora de toda e qualquer manifestação artística. A importância deste conhecimento para nossa finalidade se faz evidente quando temos que produzir ou entender uma obra de espírito artístico, pois só conseguimos chegar a algum resultado na compreensão ou produção de uma obra se tentarmos detectar e interagir com essa matriz. A colocação em evidência desta pequena gota, tirada do oceano platônico de conhecimento, será para nós importantíssima, pois aqui está um pequeno compêndio técnico que precisará desta chave para ser posto em prática enquanto manifestação estética, tanto para a produção da arte fotográfica quanto para sua apreciação.

Depois da idade áurea da filosofia grega, as teorias estéticas voltaram-se para a única fonte de arte imagética conhecida, as artes plásticas. No entanto, devemos fazer um pequeno parêntese sobre a história do conhecimento da luz, peça de fundamental importância para a obtenção do fenômeno fotográfico.


(1) A colocação da fotografia enquanto arte não foi simples; muita teoria estética foi posta em discussão até que tenha havido um consenso sobre sua natureza artística.

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