terça-feira, 27 de julho de 2010

27.07.2010




Um corpo só se descobre
Nos olhos de quem o vê
É ave se vem por cima
É peixe se vem por baixo
Um corpo é um escândalo
Se vestido de sua nudez
Ou pode ser um alívio
Se vestido de sordidez
Um corpo é desejo sólido
Um corpo é vontade liquida
Um corpo é só vapor e amor.

Um corpo escorre lânguido
Sobre outro corpo lasso
Um corpo arqueia e retesa
Sobre um corpo outro que espera
Um corpo adormece sereno
Ao lado de um outro ameno
Corpo moreno de tantos segredos
Um corpo congela na pele
Que guardou verões nos pelos
E lambe o mel da pele salgada
Um corpo absorve sedento
A húmida cobertura do outro.

Um corpo retalha cinético
As ávidas íris dos outros
Desfaz-se em cubismos sintéticos
Remonta-se em análises clínicas
Um corpo tão solto e tão frágil
Atira-se contra outro corpo
Com a força de bombas atómicas
Um corpo de cal e argila
Moldado por dedos afoitos.

Um corpo siamês do outro
Um corpo do outro, pedaço
Sabão, lixívia e toalha
Um corpo tão frio e fornalha
Um corpo carente e canalha
Um corpo espelho de um outro
Um corte feito à navalha
Um corpo é faísca lançada
Sobre outro corpo de palha.

Um corpo é junco e coluna
Um corpo é cinza de prata
Que o vento lento resgata.

PAR - Trofa - PT

Sem comentários:

Santa Poesia