quarta-feira, 21 de julho de 2010

Mohammed Dib

Mohammed Dib
21 de Julho de 1920 a 02 de Maio de 2003

(Feliz Aniversário)




"E agora que a todas deu nome – tanto quanto podemos pensar – ele descansa. Enquanto isso, trinca um fruto a ele oferecido pela mulher, também ela nua, tal como a extraiu de si próprio, nua e passeando por esse jardim. Em troca desta dádiva, desta cortesia, ele recita-lhe os nomes que acabou de atribuir às coisas, que, até aí, não tinham nome nenhum. Ela senta-se e, enquanto escuta, com um seio esmagado contra o flanco do homem, a longa enumeração, a bela adormece. Ele repara nisso, parece compreender que é a resposta mais justa à sua fastidiosa litania. Mudo, contempla-a no seu sono. Certamente lembra-se, nesse momento, de que ela é a única que ainda não recebeu nome. E nós ouvimo-lo dar-lhe um.
            - Hawa – diz ele.
            Olha para ela; repete:
            - Hawa.
            - Sim – diz ela, no meio do seu sono.
            Este “sim” atravessa a grade e ouvimo-lo chegar até nós a aflorar-nos com a frescura de uma brisa.
            Mas, mal ela proferiu esta aprovação – e aí reside o artifício que ele usou – o efebo sem idade volta a pegar nela e refunde-a nele, tornando-se o hermafrodita do fim, como já fora o do início. Assim o hermafrodita coroado, o real enigma, é ele, tal como se apresenta diante de nós."


“é preciso que haja alguma coisa para encontrar”, o outro responde: “Encontrar a fonte do sentido […] se não, qual seria o significado de toda esta caminhada, para que serviria este guarda-chuva?”


Mohammed Dib - excertos de O Deserto sem Saída

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